segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

O Manel...

o chiar esganiçado da porta alerta-me os sentidos... tenho que me recompor um pouco...
sou recebido pelo caloroso aroma a pão torrado e café acabado de fazer na velha cafeteira. as chinelas gastas de minha mãe ecoam em passos rápidos pela casa semi iluminada, ainda nem o sol raiou e já ela anda num corre corre confinada ao trabalho domestico... o seu rosto cansado e com mais alguns traços vincados pela vida sorri para mim, com os seus olhos inquietos e escuros interroga-me em silencio.. Onde estiveste?
no meio do meu coma de interior respondo vagamente que andei perdido por nenhures... rapidamente escondo o olhar na chávena fumegante de café bem forte que ela me serviu no seu mudo interrogatório...
sim... ela sabe... não estou bem... na minha face e nas minhas roupas ainda trago os resíduos da noite de excessos e loucuras ás quais me agarrei numa tentativa vã de a tirar da minha mente...MALDITA!!! 
o seu ar de anjo esta pregado aos meus olhos.a recordação daquele sorriso, o som do da sua voz cantarola na minha mente uma e outra vez... esfrego as minhas mãos compulsivamente e consigo sentir a textura sedosa da sua pele entranhada na minha como se de uma segunda vestimenta se tratasse.. AAAHHHHH... o peso da sua cabeça quando a encostava ao meu coração por vezes ainda é sentido no frio da noite quando me agarro desesperadamente á almofada tentando encontrar vestígios do seu odor...
porque me deixaste??? prometeste-me o céu e a terra... a vida... o futuro.. para que?
para um dia acordar sozinho e de ti só umas curtas linhas de despedida escritas á pressa num pedaço de papel...algumas peças soltas que te esqueceste de levar ainda por aqui circulam... de tanta coisa que deixaste podias ter devolvido o meu coração... 
todas as noites me perco pelas ruas do excesso... agarro-me a pedaços de prazer, caras desconhecidas que vou amando/usando numa tentativa desenfreada de te apagar do meu ser!!
mas todas as manhas regresso ao ninho com a tua face cravada na minha alma, com o teu odor que nem as outras conseguem apagar... pertenço-te mas já não aguento mais... 
devolve-me a mim...
devolve o filho da minha mãe...
apaga-te do meu mundo...

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Tu...


não sei o que dizer.. 
talvez fale de mim, mas não quero..hoje não... falo de quem? de ti?
sim...poderia faze-lo... mas será que tenho os dados necessários? ou simplesmente não preciso deles?
tu..... bem.... tu..... tu és tu..... 
és o líder da tua vida, o ser que comanda o teu sorriso...
tu és o outro... aquele que se esconde por trás de gargalhadas estonteantes.. 
és o hoje.....
o amanha de ti mesmo... 
saltas barreiras com a graciosidade de uma corsa...
  és o reflexo que o espelho te devolve mas nem sempre encaixa naquilo que queres ver... 
és a força da natureza em toda a sua fúria.... 
és o que sofre enroscado no seu mundo...
és o que conquista reinados sem mexer um dedo...
és o perito em ser aquilo que sempre foste e por muito que tentes não conseguirás ser outra coisa senão tu...
tu és o teu próprio destino... que te levará ao que és... TU!

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Pois...

o sorriso baila-me no rosto...
pregado a mim como algo que nunca deveria abandonar..
espero que não fuja... mas penso que não será por muito tempo...

pressinto brevemente um grande desgosto.. 
procuro o que não quer ser procurado... encontro o que já procurei e já não quero...

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

A Maria...



olho para ele.. tão sereno.. a respiração tranquila deixa-me adivinhar que está a sonhar com algo doce.. toco-lhe ao de leve na pele morena..tão suave... sorrio... os cabelos negros conferem-lhe uma sensualidade única... o corpo celeste uma tentação do pecado..
  ..não aguento..
acordo-o com um beijo.. terno, quente,exigente...
um abraço apertado serve de embalo ao meu desejo... 
entrego todas as fibras a esta sede de amor... em troca recebo a mesma moeda... 
uma valsa desenfreada marca o ritmo da ânsia de complemento.. sinto-me viva!!! 
quero sentir-me viva!!! ofereço de bandeja a minha luz em troca do teu calor... esse calor que me transporta ao infinito... esse amor que tanto procurei e ele teimava em escorregar das minhas mãos como grãos de areia... faz-me sentir-te... faz-me sentir-me...

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

what???

o que se passou?


senti um calor a preencher todas as partículas do meu ser... a minha face tingiu-se de vermelho vivo... o desejo de fugir a sete pés apoderou-se de mim...e fugi...a necessidade de sentir o ar gélido a entrar-me no corpo falou mais alto... que tenho???

Rodopiando :)

hoje

apetece-me saltar de estrela em estrela...
rodopiando ao ritmo das batidas do meu peito...

oferendo mil sorrisos tímidos à lua..
 estranho estado de alma...


(ao som de : "loin des villes" de Yann Tiersen)

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Pequeno rasgo de mim...


estou a fixar a rua onde cresci...onde tive as minhas alegrias de infância, os encontros com os amigos, o campo de futebol onde tantas vezes fui a heroína da baliza da equipa do meu bairro. sinto saudades... a rua estava sempre repleta de miúdos.. fosse inverno ou verão, divertia-mo-nos sem maldade. nesta rua existiam poucas meninas da minha idade, passava os finais de tarde a jogar futebol com os rapazes, andar de bicicleta... na rua eu era um deles! sabia o que as outras raparigas não sabiam, quando saiamos passava por um deles, envergava roupas largas e cortava o cabelo curto.. andava no karaté, e tinha a mania que era má.. bem... todos achavam que eu era... em casa... oh em casa.. era uma menina como as outras, tinha as minhas barbies que as minhas tias mandavam de Macau.. sentia orgulho nelas! tinha sempre primeiro as novidades todas das bonecas antes de saírem em Portugal. brincava horas a fio... com o nascimento do meu irmão, a minha vida pareceu mudar para melhor! adorei-o desde a primeira vez que o vi.. pequenino, tão desprotegido.. nesse dia decidi que faria tudo por ele, e FAÇO! com ele partilhei tudo da minha vida durante o nosso crescimento, nunca lhe escondi nada, sempre esteve comigo para o bem e para o mal.. desde cedo amadureceu duma maneira extraordinária... é o meu tudo... hoje estou um pouco nostálgica...sem saber muito bem o porque desta conversa enfadonha.. a vida anda estranha, resolveu dançar um tango e esqueceu-se que eu já não me lembrava dos passos.. as energias negativas que trazia revolvidas dentro de mim resolveram sair em a intensidade dum vulcão em erupção..andei perdida debaixo da geada que aqui se faz sentir e a perguntar-me que sentido tem a puta da minha vida... não sabia... aliás perdi a bússola faz alguns tempos. corri as ruas desta cidade que me viu crescer... cair, levantar, cair, levantar, cair, levantar... e caí...queria desistir... encontrei uma pessoa da minha caixa de recordações no meu passeio... desabei.. queixei-me, queixei-me e queixei-me... recebi um sorriso do outro lado e uma pergunta... só por isso? parei! racionalizei o que a cegueira da revolta tinha anexado ao meu estado caótico de parvoíce! lembrei-me da pergunta do meu irmão que começou a ecoar na minha cabeça como o toque de um bombo desenfreado! POR TI E POR MIM? POR TI E POR MIM? POR TI E POR MIM? despedi-me com pressa e corri para casa... nunca a estrada me pareceu tão comprida.. quando cheguei encontrei-o onde ainda repousa...na minha cama..afaguei-lhe a face com cuidado e pensei... por NÓS! sentiu que eu hoje iria precisar de dormir abraçada a ele...de sentir que ele esta sempre comigo...eis a minha força... estava cega por não a ver...

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

A eterna caminhada...


não sei o que faço aqui, caminho lentamente como o resto da multidão. sou mais um ser no meio de tantos outros. queria ser especial...sentir-me especial... olhar e ver que existo no olhar de alguém, no abraço... estou condenada a caminhar, observando os outros.. desejando, amando por momentos, e depois sigo o meu rumo sem destino.. porque não consigo parar esta peregrinação? a alma vazia vai penando, gritando que necessita parar! quero parar! preciso parar... sentir a carne já não satisfaz o meu devaneio.. preciso de sentir o coração, a alma, o todo... de que serve coleccionar conquistas se acabarei só? 

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

O que sente...


teu corpo deitado sobre o meu... ainda descansas sobre mim com arfar inconstante... o teu cabelo acaricia-me docemente o ouvido... quero ficar assim... contigo a proteger-me o peito... seguras o meu coração com a delicadeza que eu busco em ti... és a harmonia que enche todas as fibras do meu ser.. és a sereia de Homero.. que me seduzes com o teu doce canto... o teu aroma entranhado na minha pele conforta-me por saber que faço parte de ti... o teu calor.... confortante... embala-me em doces sonhos agarrado a ti...

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

A lamina...


hoje as palavras cortam-me como a  lamina afiada da espada de um disciplinado samurai... embebida no doce veneno da cicuta...
nao quero escrever...
nao consigo escrever...
nao posso escrever...





imagem retirada de:http://3dtnext.blogspot.com/2008/09/katana-comum-toda-katana-considerada.html

domingo, 29 de novembro de 2009

Teu tempo... teu ser em teu corpo suado

 Na penumbra do quarto o seu corpo alvo reflectia sobre o espelho posicionado ao fundo da cama. O calor da noite e as angustias sufocavam-na... o pijama já havia voado num gesto arrebatado de desespero.. focou o seu olhar no espelho... sentia-se inesperadamente bela... o cabelo negro caindo-lhe sobre a face e o rosado subtil da boca carnuda davam-lhe um ar de menina... os seus olhos enegrecidos pelo lusco-fusco do quarto conferiam-lhe uma sensualidade subtil... mirou-se profundamente... o lençol cobria-lhe tenuemente o corpo... uma sensação de diva preencheu-lhe o ego.. . o relógio batia as horas que nem se deu ao trabalho de contar...


                       .....para quê contar o tempo se ele não pára?...
enroscou o seu corpo no lençol como se de uma peça de seda se tratasse...imaginou o contacto que a seda provocaria na sua pele... um arrepio suave percorre todos os milímetros do seu corpo... aproxima-se da janela com a elegância de um felino... abre as cortinas e observa o mundo lá fora... as luzes dos carros apressados em ir para algum lugar destacam-se na estrada estreita... “hoje não quero estar só”..pensa ela... pega no telemóvel e hesita... manda ou não manda?

    ... manda...
   começa a deambular pelo quarto com pequenos passos nervosos... limpa repetidamente as mãos ao lençol... suores frios... mãos tremulas.... será que vai responder? E continua a angustia silenciosa ao som do barulho dos carros que continuam no seu rumo...

    .....respondeu...
   um sorriso brota-lhe dos lábios como uma flor no seu auge de beleza...  não tarda deixará de estar só... um cheiro suave a canela invade o quarto.. umas gotas de perfume no pescoço serão o seu adereço invisível... ouve-se um  leve bater na porta...

 .....chegou....
olha-se rapidamente ao espelho num ultimo alento... abre suavemente a barreira que a separa daquilo que busca... procura rapidamente os olhos da visita... encontra neles aquilo que deseja...a necessidade de amar alguém sem rosto...  
...sorri matreiramente...
do outro lado recebe a mesma resposta... um abraço apertado serve de cumprimento caloroso e cúmplice... aproxima sensualmente seu corpo ávido de liberdade... sem pressa caiem na cama... inexplicavelmente estreita...  em gestos circula as mãos vadias...., subtil e firme segura os seus gritos, na boca ávida trémula quente... as gotas de suor misturam-se com o perfume... um cheiro  de devaneio e êxtase preenche o quarto.... adormece sentindo o calor de outrem abraçado ao seu corpo esguio... um sorriso denuncia-se nos seus lábios agora tingidos de vermelho vivo...






(agradeço o titulo ao caro amigo duartenovale.blogspot.com)

sábado, 28 de novembro de 2009

A ninfa...



Um segundo e ele rendeu-se... a magnitude do que via não tinha oponente...  aqueles olhos... verdes que se fundiam com os prados... aquele olhar inocente... puro, pregado ao seu como o de uma corça que avalia o caçador... murmúrios praticamente inaudíveis saiam dos seus lábios...  estava assombrado.. aquela ninfa silvestre estava mesmo á sua frente... tão indefesa... tão deliciosa... os seus instintos primários despertaram com uma fúria avassaladora.. o vento trouxe consigo o aroma hipnotizante da amendoeira em flor do perfume dela... inspirou cada lufada como se fosse a ultima sedento.... na sua mente imagens de consumação carnal sucediam-se á  velocidade da luz... não se conteve... agarrou-a com a delicadeza duma flor...  ela tenta recuar... o sentimento de recusa e frustração caem-lhe no ego como a lua sobre a terra... a raiva começa a fervilhar debaixo da sua pele... não aguenta...não quer aguentar... beija-a com violência como se quisesse aniquilar tudo aquilo que ela lhe provoca... sente o sabor a sangue... quente... delicia-se... num só gesto rasga-lhe o vestido e dá rédea solta ao seu libido... frio e absorto no seu belo prazer ignorando os gritos que ecoam pela pradaria... gritos de quem viu a sua inocência morta....  levanta-se de um salto não se reconhecendo como realizador daquele filme de terror... corre aos tropeções pelos campos gemendo e chorando o seu acto num vale de lágrimas tingido de negro... num grito incontido encomenda a sua alma ao demo... uma gota de sangue mancha o verde prado.. e mais uma... outra ainda.... uma corrente de gotinhas vai caindo...  a ninfa solta gargalhadas histéricas pelo vale.... o sangue escorrega pela sua face... os seus olhos brilham de satisfação... a sua honra foi vingada.....

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Sinfonia


O rio corre sereno e cintilante cantando uma melodia calma e anestesiante que entra nos meus ouvidos docemente... ao longe e ao mesmo tempo tão perto um rouxinol entoa uma canção especialmente composta para este momento... a humidade da erva arrefece-me o esqueleto estendido na margem de nenhures... uma brisa terna agita os eucaliptos libertando o seu aroma aos céus... levanta carinhosamente o meu cabelo revolto que acaricia a face que ofereci ao vento... mistura mágica de sentidos e aromas ... cerro os olhos... tento assimilar tudo o que me rodeia.... os cheiros, as sensações, a inebriante valsa que a natureza escreveu sem notar que eu estava ali... abro os olhos e vejo o branco das nuvens a rasgar o azul celeste...traços sublimes de algum pintor embriagado... sorrio...

O som

escondo a cabeça incessantemente contra a almofada já deformada de tantas outras noites assim... este som entranha-se na minha mente, com um ritmo sistemático de inexistência que me tortura! vozes que mais ninguém ouve sussurram-me pensamentos incessantes, cavalgo nas ondas intempestivas que elas criam com o seu murmúrio, viajo num turbilhão de palavras soltas, frases sem sentido algum, rostos esbatidos.... o remoinho vai crescendo... tento em vão travar esta força invisível... aperto o meu corpo o mais que a minha pequena carcaça permite, comprimo todos os músculos num esgar de raiva e dor....NÃO CONSIGO PARAR DE PENSAR... rebolo sobre mim mesma e... nada.... maldito sono que teima em não vir, onde esta o Vitinho da minha infância que me embalava e transportava para o mundo da fantasia? Devo te-lo guardado na arca da inocência... Respiro fundo...o ar abafado do quarto entra lentamente nos meus pulmões... sinto o cérebro a latejar...suavemente vou libertando pequenas quantidades de ar estranhamente doce... o som mudo continua.... tem o estranho poder de me intoxicar... FODA-SE não aguento mais... pequenos flashes de imagens e frases tentam dominar a minha mente... a culpa é do maldito som de nada que invade as paredes nuas deste quarto outrora habitado por risos cúmplices e suspiros ofegantes!! debato-me violentamente contra mim mesma até as primeiras luzes da manha iluminarem esta gruta obscura através das persianas corridas... colo o olhar no dançar dos pequenos pontos projectados na alva parede, tão pequenos bailando ao ritmo da brisa matinal e adormeço mais uma vez coberta pelo silêncio...

Texto reeditado para a Fábrica de Letras para o desafio subordinado ao  tema Silêncio

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

...


Um dia...

.... farei tantas coisas que não poderei recordar a totalidade delas....
... serei tão forte que aguentarei tempestades de sorriso aberto...
...conseguirei chorar todas as penas do meu ser....
...largarei a saudade que trago amarrada ao peito....
.....verei o mundo raiar no auge de todas as suas cores....

... levarei na alma tudo aquilo que não poderá jamais ser dito...
... deixarei de ser quem sou....

.....serei a senhora do tempo...
.....esquecerei o todo que em mim brotou....

Chuva...

que arrepio é este?esta a cair chuva... hoje é quente e ao mesmo tempo gelada...  sinto gotas a escorrer pela face... uma passeia pelos meus lábios.. com a ponta da língua saboreio-a... é salgada.... sinto o sabor percorrer os meus sentidos.. e caio em recordações... lembranças de outrora... em que o mar era a testemunha que se fundia em mim... no meu baptismo de pecado... oh esse pecado... com sabor a sal e cheiro a areia... onde corpos sedentos se entregaram fruto da fome... a fome do devaneio... da loucura... da mais pura das sensações... as peles arrepiando-se mutuamente a cada toque...o toque suave que não tem pressa.... de quem tem todo o tempo do mundo e mesmo assim não chega.... ergo a cabeça para o céu e deixo as gotas caírem livremente sobre mim... abrando o passo... e solto as rédeas dos pensamentos oprimidos... por momentos consigo sentir o arrepio de novo.... desta vez mais profundo.... intenso.... mais puro.... caminho sem pressa pelas ruas nesta noite escura... observo quem não quer ser observado... tento ouvir os passos de vagabundos que tal como eu perderam o sono a esta hora tardia... e vagueiam... sem destino... debaixo da mesma chuva...