quarta-feira, 17 de março de 2010

O passeio de Eva..

o dia esta pincelado em tons de cinza e branco que contrasta com a fachada antiga dos edifícios. os chuviscos vão caindo suavemente caindo na pele como uma caricia. adoro os dias assim, em que vejo o mundo vestido de acordo com a minha tristeza.. estou farta de amar sem retorno, farta de ter de recorrer a meros momentos de prazer para me sentir amada.. farta de viver para o trabalho, farta de sentir que não construí um porto de abrigo. amei tantas rostos, usei tantos corpos.. magoei os que me amaram , pisando-os com as minhas teorias de independência.. com o meu grito do Ipiranga tantas vezes pronunciado com voz alterada, e nervos de aço que isolavam o meu coração e só saiam barbaridades de quem não tem alma.. ou então fugindo, deixando notas soltas com a vergonha de não encarar o amor.. só causei sofrimento, estraguei casamentos, destruí amizades, fui a prostituta da luxuria em que prostitui o meu corpo em troca de migalhas de atenção.. sempre agarrada ao bastião da independência.. empurrei o Manuel para o poço da dor, estilhaçando o seu pobre coração em mil pedaços queimando a essência do que ele foi outrora; o amor da minha vida.. a doce Amanda que abandonei do mesmo modo por me sentir presa a amarras invisíveis que só existiam na minha cabeça.. archhhhhhh e o Luís, o meu Dionísio do pecado, ao qual destruí o casamento com a mulher que o acompanhou a vida toda.. e no fim de tudo isto continuo sem saber quem sou.. sem perceber o porque da minha existência terrena, sem saber o que devo sentir. não sei onde os meus passos me levam, mas também não quero saber. a noite vai caindo lentamente e o ar arrefeceu.. a brisa do anoitecer congela-me os dedos das mãos caídas ao longo do corpo, devia apertar o casaco mas os meus braços não me obedecem.. começo a gostar deste friozinho que se vai incutindo debaixo da minha pele.. já não vejo as luzes da cidade, mas os meus passos não param, continuo sem saber para onde vou. não quero parar de andar, nem regressar ao meu covil repleto de imagens que me abafam. ouço o cantar das ondas interrompido pelo palrar das gaivotas.. inalo com sofreguidão o ar gélido que me corta os pulmões como pequenas picadas de vespa.. cheira a mar.. tenho de descer e sentir o ondular das aguas gélidas a bater nos meus pés, a areia a acariciar a minha pele.. o impacto com a agua provoca-me um arrepio profundo em todo o corpo.. olho para o céu e a lua cheia sorri para mim com simpatia.. vou entrando nas aguas calmas hipnotizada pelo reflexo da esfera lunar no azul escuro das aguas que entretanto com o breu nocturno que se foi instalando silenciosamente se tingiu.  abraço a agua com os meus braços em movimentos circulares guardando as sensações e as recordações dos bons momentos que tive rapidamente ensombrados pela névoa da solidão. o meu rosto começa a mexer-se suavemente esboçando um sorriso para a lua.. fecho os olhos e deixo-me ir.. está uma bela noite para morrer perdoa-me minha irmã Maria..
a ultima melodia de Eva... 

2 comentários:

Anónimo disse...

texto belo e...sentido...
eva tinha o seu encontro marcado, com o reflexo da lua... e lá foi ,imagem reflectida, ao encontro doutra poisada nesse mar...
bjs do vento

Vaca na Lua disse...

Fantástico texto. E estava uma bela noite para morrer...

Bjito directamente da Lua