domingo, 28 de março de 2010

Ana Felix

mais um dia em que o sol inunda o meu quarto acariciando-me o rosto.como sempre esboço um sorriso ao sentir este mimo que o acordar me oferece banhado pelos raios dourados que me aquecem. hoje a caricia desperta-me a necessidade de aventura, de sentir... de viver! olho para mim e nao sei nada do mundo, desconheço as paisagens, os aromas, as caras, as emoçoes de tantos lugares desconhecidos. tenho 25 anos e vi a vida a passar. aluna exemplar sempre metida em pilhas de livros que me absorveram pelas palavras e ansia de conhecimento. mas o que é conhecimento teorico sem a experiencia vivida? sem sentir cada palavra, imagem, cheiro com a intensidade do momento, agarrando nas minhas mãos e escrevendo em mim pedaços reais de historias ainda por contar. desconheço os inumeros reinos que a vida oferece mas anseio descobrir os seus pódios e instalar-me neles como soberana. ate hoje vivi limitada ao que escolheram para mim, aos caminhos que traçaram antes de eu vir ao mundo. acolho as expectativas sem me pronunciar sobre elas, obedecendo com servidão de quem presta vassalagem ao seu senhor. estou presa na formatação que se vem arrastando de geração em geração na minha familia. estudar, arranjar trabalho, casar, ter filhos, envelhecer, morrer...seguindo sempre as vontades dos ascendentes sem questionar, levando uma vida sem percalços. hoje sinto-me abafada, presa, inibida no meio de quem me devia conhecer mas desconhece. um dia desapareço.. porque nao hoje? sim porque nao? tenho umas economias que fui amealhando ao longo dos anos graças a generosas contribuiçoes por parte dos padrinhos e do pai na altura dos anos e das outras epocas festivas. agarro nalgumas peças de roupa que julgo serem essenciais e meto-as atafulhadamente dentro da mochila. é hoje! saio com passo ansioso e veloz como se tivesse as sandalias com asas de Hermes retorquindo um bom dia apressado aos meus pais. estou a tremer de excitação pela minha fuga repentina da homogeineidade dos meus dias. a respiração acelarada bombeia ar excessivamente rapido para os meus pulmões sinto que nao consigo acompanhar o ritmo a que inspiro o oxigénio. num ápice acordo do meu transe e já estou na estação com o senhor dos bilhetes a questionar-me qual é o destino.. que vou responder? nem sei para onde vou? para onde quero ir? pressiono a minha mente a decidir.. nao sei.. compro o bilhete para o comboio que vai partir daqui a 3 minutos. nao me interessa o destino. acendo um ansioso cigarro que sorvo com sofreguidão tentando acalmar os tremores e a excitação que me embriaga todas as ligaçoes nervosas do meu corpo. uma voz abafada preenche o cais de embarque avisando que o comboio da linha tres esta pronto para sair.. é agora ou nunca! mato o raio do cigarro atirando-o de rompante para o chao, é agora.. e embarco..

6 comentários:

Johnny disse...

Deve ser muito libertador dizer: "É agora."

Amaterasu, às vezes Aurora disse...

é o acordar de uma nova personagem. :)

por acaso qd escrevi este texto lembrei-me de ti ( da tua referencia num comentario aos pacotinhos de açucar nicola)

Johnny disse...

E depois vais conseguir ligá-las todas?

É natural que tu - como as outras milhares de raparigas que me conhecem - penses habitualmente em mim, ainda bem que serviu para algo.

Amaterasu, às vezes Aurora disse...

penso que irei conseguir senão peço ajuda :)

em relação ao pensar em ti.. só tenho 3 letras para te descrever moçoilo.. PDM :)

Anónimo disse...

mais um pedacito....
a aventura não tem hora marcada , nem comboio com horário...acontece , simplesmente.
bjs do biolas

Vaca na Lua disse...

Estou com curiosidade para saber para onde embarcou...

Bjito directamente da Lua