terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Trigueira e moça...

o rosto trigueiro dourado pelo sol ardente dos campos transparece um cansaço que a consome internamente. mãe de três filhas cada uma mais perdida que a outra nascidas no meio das trevas da fome e da violência. não sabe das suas filhas...mas também não quer pensar nelas. estão melhor sem ela..pensa numa tentativa vã de apaziguar a sua dor.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

queria...

queria conseguir ver o mundo pelos teus olhos..
encontrar em pequenas coisas a razão de um sorriso. descobrir na brisa a essência do respirar.. queria ser as letras que voam nas mentes dos sonhadores que as enlaçam em palavras que nao sei escrever..
queria ser a chuva que rejuvenesce o mundo matando a sede faminta da caricia..
 anseio a forma daquilo que não se vê, não se toca nem cheira, só se sente.. queria ser o descobrir dum novo elenco pronto para encenar uma realidade perfeita com sabor a liberdade..
queria ser o poema onde sentes as palavras caminhando pelo teu peito abraçando esse coração..porque esse e não outro?
não sei...


(ao som de the tiny )

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

coincidencias?

a chuva de folhas douradas das árvores ondulavam ao sabor do vento. aquela árvore isolada no meio dos muros de pedra fazia-me sentir compreendida. o vapor da minha respiração formava pequenas nuvens que se dissipavam no ar. o vento gélido entranhava-se na minha pele chocando com o calor que ardia na minha alma. o céu escuro como o breu dava ainda mais encanto ao circulo lunar que iluminava  noite... de repente..ele chegou...

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

era uma vez....

ele olhou para ela e sorriu... não entendia como aquela doce criatura podia estar ali, dormindo nos seus braços agarrando-se a ao seu corpo como se de uma bóia se tratasse. o rubor das faces dela ainda se mantinha ao de leve contrastando com a sua pele alva.. momento de união é como conseguia descrever todos os toques, os beijos tímidos no inicio que depois se revelaram ardentes, o calor daquele corpo que teimava em não descolar do seu. a sua menina mulher... com um pequeno gesto gostaria de lhe apagar as feridas que ainda brotam do seu coração. expira o aroma que impregnou as paredes amarelas do seu quarto. cheiro de união completa para si. não consegue encontrar outra definição que não essa. ternamente murmura o seu nome no meio da escuridão e abraça-a. inconscientemente ela no meio do seu sonho deposita suavemente um beijo delicado no peito dele continuando a sua viagem pela terra encantada. mais uma vez união pensa ele...e adormece..

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Decisões...?

todos temos os nossos diálogos interiores. muitas vezes com Deus, com nós mesmos, com alguém que está longe, com alguém que já amámos, com quem já vivemos, com aqueles que partiram. em todos os locais a nossa mente viaja em mil um pensamentos muitos dos quais nem nos lembramos do seu conteudo. conversas estas que não é mais que o nosso EU em busca de respostas e orientações para seguir os caminhos que achamos mais acertados. 
estas escolhas ditam aquilo que somos perante os outros pelas atitudes que exteriorizamos que escondem aquilo que somos realmente e que nunca é receptado com o mesmo código com que enviamos a mensagem. ninguém é aquilo que mostra ser, existe sempre uma pessoa diferente por baixo da capa. pessoas essas que se revelam em privado só a um certo e determinado numero de indivíduos com os quais se sentem realmente seguros. 
hoje ando a vaguear nestes terrenos, tentando encontrar um rumo para construir, evoluir ainda mais o meu EU.. sinto a necessidade de crescer, sentir, amar... VIVER...ser o que nunca fui, experimentar o que nunca me foi mencionado, provar delicadamente cada emoção nova que a vida me pode oferecer..hoje.. apetece-me baixar o pano que cobre o meu rosto, erguer os olhos para as nuvens que acompanham este comboio.. hoje.. não me apetece resguardar de ninguém, não me apetece conter e inibir o que sou...hoje... um novo inicio aguarda-me...

(continuação da viagem de Ana Felix)

ao som de : humanos- já nao sou quem era

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Paz..

mais uma vez os pensamentos perdem-se na bruma de fumo que instalei no meu quarto a fumar cigarro atrás de cigarro. ir a casa de Eva fez-me bem. senti-la perto mesmo estando a uma eternidade finita de distancia. trouxe um relógio que muitas vezes tentei furtar-lhe sendo sempre apanhada em pleno delito..  a pele da pulseira ainda tem o seu cheiro. trouxe um pedacinho dela... descansa em paz.

ao som de: A chaga - Ornatos violeta

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Não tenho melhor titulo que este para titular isto...

noite escura só se ouvem os passos descompassados do vizinho gordo, banhado em perfume de uva fermentada do andar de cima.
o vento ecoa pela janela assobiando uma estranha melodia que se entranha nos ossos espicaçando-os..
arrepios navalhados percorrem a minha coluna vertebral quase desfazendo em pó a minha medula.
                                      não consigo dormir...
o silencio entre-cortado pelos sons nocturnos tardiamente enaltecidos pelo meu espírito corroem-me as veias gelando o percurso do sangue.
gostava de fechar os olhos e conseguir conter a respiração até as veias me saltarem bruscamente no pescoço e ver o branco.. soltar o ar quente consoante o compasso do descompasso dos passos do vizinho e perder-me na nuvem do adormecer... 
mas não adianta.. já o fiz..

(personagem de ninguém: Madalena)                   

aquele abraço "gIgAnTe"

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O Funeral de Eva

(seguimento da série de contos das personagens de ninguém)

A sala esta abafada, cheia de caras repletas das mais variadas emoções, trajadas de negro luto enaltecem a urna ornamentada por belas flores com cartões que nem me dou ao trabalho de ler, está a asfixiar-me este ar nauseabundo...


o meu olhar divaga entre os rostos sem nome cavaleiros em vultos esbatidos que insistem em abraçar-me inundando o meu ser com odores que não quero sentir, beijos secos que não quero receber, abraços dos quais quero fugir, palavras de consolação que não quero ouvir, conselhos repetidos que não me interessam para... NADA!
-oh Maria tu ve-la! agora estas sozinha, olha que eu estou aqui..
- Mariazinha esta tão grande querida.. olhe a sua imã deixou testamento?
e esta porcaria continua... bla...bla...bla...bla...bla..blA..blA..bLA..bLA..BLA...BLA!
 -CALEM-SE, CALEM-SE! VÃO EMBORA! grito para mim mesma num grito mudo que só eu consigo ouvir..
O lençol rendado que cobre o rosto de minha irmã parece mover-se como se ela respirasse. Liberto-me das mãos que me prendem e aproximo-me lentamente da urna simples mas imponente que ocupa metade da divisão. pura alucinação da minha esperança.. não aguento estar aqui.
Na rua, as nuvens cinzentas não assustam uma onda de gente que pretende adorar o cadáver, continua a oferta indesejada de sentimentos aos pacotes, beijinhos a torto e a direito e tentativas de abraços que ando a tentar evitar. vou cruzar os braços pode ser que assim não me chateiam muito.. merda lá para os beijinhos, já tenho a cara toda babada!
 não me vão tirar a minha dor, nem tão pouco devolver-me o que já me foi tirado, com a merda dos beijinhos! Estou cansada deste teatro de faz de conta onde cada um desempenha o seu papel como formiguinhas treinadas e quem escapa à linha é para abater. Entre duas passas dum silencioso cigarro observo as pessoas que ali estão. não conheço nem metade. algumas nem me conhecem a mim mas fazem de conta que sim e elaboram mil e uma perguntas sobre os pormenores da morte. AIIIIII MAS A VOCES QUE VOS INTERESSA???! volto a gritar de mim para mim em voz roucamente silenciosa...
-porque  isto tudo?
porque tão cedo?
 RESPONDE-ME CABRA!!!
podia ter passado mais tempo contigo, dar-te mais atenção, conhecer-te mais e  melhor...  AMAR-TE MAIS!!!... FODA-SE! ando em diálogos internos com as minhas vozes invisíveis que me tentam controlar e mandar nos meus actos. não consigo expressar o pesar que a tua partida me provocou e provoca!!!
  vou para tua casa sentir o teu cheiro e vestir o teu roupão só para fazer de conta que estas a trabalhar e voltas para jantar...
se ao menos conseguisse apagar esta dor...tudo era mais fácil...vá lá começou a chover...cheira a ti Eva...


texto participante no desafio com o tema "O cheiro da Chuva" proposto pela Fabrica das Letras

quarta-feira, 9 de junho de 2010

A forca...

as cordas invisiveis apertam a minha garganta impedindo-me de respirar! revejo a minnha vida num relampago fugaz.. nao me apetece libertar destas cordas invisiveis que me sufocam.. mas também nao quero ficar presa nesta indecisão de estar bem ou não estar.. deixo-as apertarem mais e mais nao mexendo qualquer musculo nem sentimento com o intuito de me decidir.. vou deixar entrar a dor...
a dor de ter de errar, a dor de ter de sentir, a dor da frieza desmedida.. quem seria eu sem a dor?
mais um ser esbarrado na monotonia de sentir por sentir, de respirar por respirar...

segunda-feira, 24 de maio de 2010

:S

aiiiiii maldita alucinação de sentidos
mergulhados na tinta negra
que jorra do meu coração..
pinceladas bruscas envolvem a cor
e a negritude num bailado sinuoso
onde com pés descalços caminho
pontapeando pedras bicudas
que por momentos iluminam a realidade
e me mostram que as rosas são efémeras...

terça-feira, 18 de maio de 2010

:)

 sonhos incontidos corroem as minhas veias
inertes que se limitam a ver a magia acontecer 
os sentidos absorvem as sensações 
que a alma anseia gravar no seu centro 
emoldurando-as de sentimentos 
que começam a surgir vitimas do segredo da noite 
teimosamente adocicam o olhar 
fazendo ver o que se tem 
saboreando em pequenos tragos esta nova euforia.
o despertar do que se julgava perdido
faz renascer a pessoa de outrora banhando-a com uma nova aura repleta de raios lunares entrelaçados com os sorrisos do sol.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Minutos meus..


fecho o caderno das recordações e espero calmamente que se dissipem no ar gélido da noite.. envolvo-me no manto das historias por contar e agarro-me a elas nesta noite vazia de alguém mas cheia de mim..

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Manuel e o voo...

faz uma semana e pouco que Eva morreu.. a sua memoria ficou esquecida naquelas aguas. morava só, estava só. todos seguiram as suas vidas eliminando das conversas o seu nome, apagando os vestigios da sua passagem terrena, para nao a recordar. a imagem de Eva nao é mais que diversos momentos que o tempo rapidamente fez questao de esborratar tornando-os numa pintura abstracta feita pelas maos duma criança. de todos as vidas em que ela entrou tentando encontrar-se a si mesma, mas acabando sempre por destruir o ninho que a acolheu só uma sentiu verdadeiramente a sua falta..o Manuel.. o desgraçado que lhe deu o coração uma e outra vez, recolhendo-o quando ela o rasgava intempestivamente nos seus ataques de impulsividade desmedida, colanda-o com pequenas tiras de fita cola que nunca aguentavam a pressao que o desdém dela lhe retribuía. com a morte de Eva, o nosso martir do amor perdeu-se de novo no meio da escuridão dos seus pensamentos, perdeu-se sem nunca se ter chegado a encontrar.. quando o corpo inerte de Eva foi recolhido dos rochedos para onde o mar o enviou, um outro corpo precipitou-se num voo picado para o fim da dor.. Manuel pilotou a sua vontade para a meta evitada por alguns e ansiada por outros como o remedio para as maleitas do espirito.. 

domingo, 28 de março de 2010

O sr. Joaquim

a vida passou depressa. os filhos cresceram, vieram os netos, os bisnetos.. já fui vadio como o vento dedilhando com notas sentidas as emoçoes que a vida me ofereceu cantando em fado garrido as magoas que por mim passaram. estou cansado, mas nao morto. amei mil e uma mulheres, comi o pó de muitas estradas na minha febre de liberdade e fome de viver. ainda me lembro das viagens montado nos meus velhos sapatos herdados de um irmão mais velho, que entretando crescera, mas estimados como se fossem novos. a vida era dura, davamos valor a pequenas conquistas e estimavamos o que nos era querido. com uns tostões no bolso sentia-me o rei do mundo. o senhor das minhas cantilegas que o vento bradava aos céus. era feliz. num tempo em que os homens estavam confinados ao trabalho calejado da vida no campo. tantas vezes me fiz à estrada com uma misera codea de pao e uma garrafa de tinto da adega de meu pai. deambulei de baile em baile, sorrindo e conquistando meninas de bons costumes guardadas por mães beatas. e um dia apareceu ela. airosa, de pele queimada pelo sol e maos gretadas do manejar coreografado das facas da cozinha, da agulha e da enxada. a inocencia e a simplicidade dos seus modos raptaram-me o coração. encontrei nela o ninho que necessitava para parar as incessantes caminhadas pelas terras de ninguem. substituí as cordas roliças da minha até entao mulher e companheira de alegrias e tristezas, a viola, que comprei com as tostoezecos que ia ganhando nos pequenos biscates que fazia ao sapateiro lá da sitio que me viu nascer. retornei ao oficio para sustentar esta nova vida.. nao me arrependo... estou na planicie da vida, nada mais posso fazer que abraçar todos os dias a sorte de ter vivido e criado uma familia ao lado da minha esposa, tendo sempre como amante das horas vagas a minha eterna viola e muitas aventuras para contar..

foto de Tiago Ribeiro : The Shoemaker

Ana Felix

mais um dia em que o sol inunda o meu quarto acariciando-me o rosto.como sempre esboço um sorriso ao sentir este mimo que o acordar me oferece banhado pelos raios dourados que me aquecem. hoje a caricia desperta-me a necessidade de aventura, de sentir... de viver! olho para mim e nao sei nada do mundo, desconheço as paisagens, os aromas, as caras, as emoçoes de tantos lugares desconhecidos. tenho 25 anos e vi a vida a passar. aluna exemplar sempre metida em pilhas de livros que me absorveram pelas palavras e ansia de conhecimento. mas o que é conhecimento teorico sem a experiencia vivida? sem sentir cada palavra, imagem, cheiro com a intensidade do momento, agarrando nas minhas mãos e escrevendo em mim pedaços reais de historias ainda por contar. desconheço os inumeros reinos que a vida oferece mas anseio descobrir os seus pódios e instalar-me neles como soberana. ate hoje vivi limitada ao que escolheram para mim, aos caminhos que traçaram antes de eu vir ao mundo. acolho as expectativas sem me pronunciar sobre elas, obedecendo com servidão de quem presta vassalagem ao seu senhor. estou presa na formatação que se vem arrastando de geração em geração na minha familia. estudar, arranjar trabalho, casar, ter filhos, envelhecer, morrer...seguindo sempre as vontades dos ascendentes sem questionar, levando uma vida sem percalços. hoje sinto-me abafada, presa, inibida no meio de quem me devia conhecer mas desconhece. um dia desapareço.. porque nao hoje? sim porque nao? tenho umas economias que fui amealhando ao longo dos anos graças a generosas contribuiçoes por parte dos padrinhos e do pai na altura dos anos e das outras epocas festivas. agarro nalgumas peças de roupa que julgo serem essenciais e meto-as atafulhadamente dentro da mochila. é hoje! saio com passo ansioso e veloz como se tivesse as sandalias com asas de Hermes retorquindo um bom dia apressado aos meus pais. estou a tremer de excitação pela minha fuga repentina da homogeineidade dos meus dias. a respiração acelarada bombeia ar excessivamente rapido para os meus pulmões sinto que nao consigo acompanhar o ritmo a que inspiro o oxigénio. num ápice acordo do meu transe e já estou na estação com o senhor dos bilhetes a questionar-me qual é o destino.. que vou responder? nem sei para onde vou? para onde quero ir? pressiono a minha mente a decidir.. nao sei.. compro o bilhete para o comboio que vai partir daqui a 3 minutos. nao me interessa o destino. acendo um ansioso cigarro que sorvo com sofreguidão tentando acalmar os tremores e a excitação que me embriaga todas as ligaçoes nervosas do meu corpo. uma voz abafada preenche o cais de embarque avisando que o comboio da linha tres esta pronto para sair.. é agora ou nunca! mato o raio do cigarro atirando-o de rompante para o chao, é agora.. e embarco..

sexta-feira, 19 de março de 2010

Um Ultimo Prazer..

a agua vai-me cobrindo a cada passo que dou mar adentro. as bolhas de oxigénio que vou libertando bailam à minha frente encantando o meu olhar.. o ar escasseia, a garganta teima em exigir abastecimento para os pulmões que se vão enchendo rapidamente de agua salgada. este sufoco provoca-me um prazer inexplicável, todo o meu corpo estremece em mil e um arrepios, coordenados voluptuosamente  com o aperto das minhas vias respiratórias e a emancipação do batimento cardíaco. ordeno aos meus braços que parem de tentar alcançar o topo das aguas em busca da salvação.. quero ir ao fundo levando no olhar o brilho da lua.  os meus cabelos livres agora do seu peso vagueiam em meu redor ao sabor da corrente. estou a seguir o que a minha alma inconscientemente ditou ao compasso sereno dos meus passos. o frio desapareceu, mas também não sinto calor, as sensações estão a deixar de existir.. não sinto magoa, nem dor..mas sim felicidade.. no meio da imensidão do mar encontrei o meu repouso.

quarta-feira, 17 de março de 2010

O passeio de Eva..

o dia esta pincelado em tons de cinza e branco que contrasta com a fachada antiga dos edifícios. os chuviscos vão caindo suavemente caindo na pele como uma caricia. adoro os dias assim, em que vejo o mundo vestido de acordo com a minha tristeza.. estou farta de amar sem retorno, farta de ter de recorrer a meros momentos de prazer para me sentir amada.. farta de viver para o trabalho, farta de sentir que não construí um porto de abrigo. amei tantas rostos, usei tantos corpos.. magoei os que me amaram , pisando-os com as minhas teorias de independência.. com o meu grito do Ipiranga tantas vezes pronunciado com voz alterada, e nervos de aço que isolavam o meu coração e só saiam barbaridades de quem não tem alma.. ou então fugindo, deixando notas soltas com a vergonha de não encarar o amor.. só causei sofrimento, estraguei casamentos, destruí amizades, fui a prostituta da luxuria em que prostitui o meu corpo em troca de migalhas de atenção.. sempre agarrada ao bastião da independência.. empurrei o Manuel para o poço da dor, estilhaçando o seu pobre coração em mil pedaços queimando a essência do que ele foi outrora; o amor da minha vida.. a doce Amanda que abandonei do mesmo modo por me sentir presa a amarras invisíveis que só existiam na minha cabeça.. archhhhhhh e o Luís, o meu Dionísio do pecado, ao qual destruí o casamento com a mulher que o acompanhou a vida toda.. e no fim de tudo isto continuo sem saber quem sou.. sem perceber o porque da minha existência terrena, sem saber o que devo sentir. não sei onde os meus passos me levam, mas também não quero saber. a noite vai caindo lentamente e o ar arrefeceu.. a brisa do anoitecer congela-me os dedos das mãos caídas ao longo do corpo, devia apertar o casaco mas os meus braços não me obedecem.. começo a gostar deste friozinho que se vai incutindo debaixo da minha pele.. já não vejo as luzes da cidade, mas os meus passos não param, continuo sem saber para onde vou. não quero parar de andar, nem regressar ao meu covil repleto de imagens que me abafam. ouço o cantar das ondas interrompido pelo palrar das gaivotas.. inalo com sofreguidão o ar gélido que me corta os pulmões como pequenas picadas de vespa.. cheira a mar.. tenho de descer e sentir o ondular das aguas gélidas a bater nos meus pés, a areia a acariciar a minha pele.. o impacto com a agua provoca-me um arrepio profundo em todo o corpo.. olho para o céu e a lua cheia sorri para mim com simpatia.. vou entrando nas aguas calmas hipnotizada pelo reflexo da esfera lunar no azul escuro das aguas que entretanto com o breu nocturno que se foi instalando silenciosamente se tingiu.  abraço a agua com os meus braços em movimentos circulares guardando as sensações e as recordações dos bons momentos que tive rapidamente ensombrados pela névoa da solidão. o meu rosto começa a mexer-se suavemente esboçando um sorriso para a lua.. fecho os olhos e deixo-me ir.. está uma bela noite para morrer perdoa-me minha irmã Maria..
a ultima melodia de Eva... 

O arco íris de Eva

no negro da ausência de ninguém perco a bússola que me faz andar à nora.. já não sei quem sou, porque sou, o que faço aqui.. esta podridão interior esta a corromper-me as veias a um ritmo cósmico. não reconheço o reflexo que o espelho me devolve, está baço da minha respiração ofegante de quem não consegue mirar-se,  a minha visão demasiadamente turva, confusa, misturando as cores do arco íris num remoinho frenético que lentamente se torna num buraco negro.. não consigo entender o propósito da minha existência, tudo se resume a meras aparências no jogo dos bons costumes que alguém se lembrou de escrever para catalogar, rotulando o aceitável e o rejeitável..sou como sou.. mas quem sou eu? sou a imagem que dou ao mundo ou a imagem que o mundo vê em mim? porque me sinto só no meio da multidão que todos os dias entra e sai da minha vida, porque grito sem razão tentando vomitar esta dor que me trespassa? o que faço aqui? tudo o que construirei se apagará nas memorias do tempo, se desaparecer o mundo não vai parar de girar, vai continuar no seu circuito uma outra vez.. AHHHHHHH sinto o corpo a tremer iniciando mais uma possessão de raiva em que todos os meus poros se preenchem de violência incontida para com o mundo e contra mim,  não sei que merda é esta que me rasga socalcos no peito e semeia flores negras de confusão.  das colunas abafadas do computador a mensagem chega enviada involuntariamente por algum participante do programa dos finais de tarde de discos pedidos.. "Ninguem é quem queria ser.. eu queria ser ninguém..."  saboreia cada palavra absorvendo-as com todos os sentidos.. nunca pensou que uma música pudesse assentar-lhe tão bem.. agora entende o que viu no espelho.. ela viu Ninguém.. 

sábado, 13 de março de 2010

Aiiiiiiiiiiiiiiii

apetece-me gritar
afiar os ossos das mãos em carne humana
sentindo o calor do sangue a jorrar por entre os meus dedos
estripando a minha vontade
deixando-a nua, despida de todos os coletes de forças
que a prendem empurrando-a para baixo
que apunhalam o meu peito uma e outra vez
ate ficar sem forças e cair no silêncio..

quinta-feira, 11 de março de 2010

Luís ou Eva?

ventos intempestivos
abanam as finas paredes
da minha sanidade
assobios agudos esganiçam-se
por cima do bater das horas
estou só, encontro-me só
sinto-me só, vivo só...
amo por momentos
esqueço em segundos
aquilo que recolho de diversos mundos
cavalgando no cavalo de troia
em busca de Helena..
sorrisos vagos levam no seu brilho
os amores de ninguém
as canções do velhinho
o coração de alguém..

quinta-feira, 4 de março de 2010

O Mergulho de Manuel

a lareira crepitava suavemente ao fundo da sala, o cheiro da madeira de pinho a arder inundava a sala inebriando-lhe os sentidos.. roda suavemente na mão o cálice de licor observando os círculos imperfeitos que o liquido meloso deixava atrás de si através do vidro enaltecido pelo dourado que a chama lhe oferecia. o seu rosto denuncia o seu pesar, os lábio inferior capturado no meio dos seus dentes parecem conter o grito que teima subir-lhe pela garganta, os seus olhos semi cerrados escondem o brilho da lágrima que teima em vir..  o seu cabelo desalinhado e a barba por fazer escondem os músculos tensos dos seus maxilares apertados num esgár de revolta..
está assim desde que acordou na cama de Eva após uma noite de pura magia, de reencontro pelo menos assim o sentiu, amou-a tentando apagar os meses de sofrimento que a ausência inexplicável dela provocou, sem fazer perguntas, só não lhe deu o que tinha porque já ela possuía. a alma, o coração! para quê?para mais uma vez o atirar ao chão quando atendeu aquele maldito telefonema mal ele abriu os olhos e lhe sorriu.. mais uma conquista barata de certeza pensou ele. mas a alegria dela, as palavras que usou -"sabia que ligarias.." e o seguimento da conversa aliando-se ao brilho dos seus os olhos de pura excitação, o deambular nervoso como o de uma adolescente revelou-lhe que tudo foi ilusão.. e ele ali, esquecido... em silêncio vestiu-se e saiu.. ela nem sequer reparou. e agora está mergulhado no seu mundo afundando-se no sofá que já parece uma extensão grotesca do seu corpo encarquilhado pela dor ... o toque de Eva não mata.. mas aniquila..

quarta-feira, 3 de março de 2010

A música que faz Eva chorar..

Princesa Madalena..

- pai conta-me uma historia.
- ainda não é hora de dormir Madalena...
- conta na mesma, quero ver na minha cabeça o príncipe e a princesa.


quem me dera voltar a ter 4 anos e poder sentar-me no colo de meu pai encostando a cabeça ao seu peito ouvindo o bater do seu coração, sentindo a sua mão áspera a perder-se no meio dos meus cabelos.. aquela voz rouca contava-me as historias de encantar que terminavam com um final feliz, o príncipe salva a princesa do monstro, dos piratas, dos bandidos, da bruxa má.. 
eu tive essa história com o Luís, foi o príncipe que no 10º ano me defendeu dos ataques dos engraçadinhos que gozavam com o meu aparelho com elásticos cor de rosa.. como me lembro desse dia. ele era o maior, jogava na equipa de juvenis da equipa de futsal lá da terra, delegado de turma, sempre rodeado por um grupo de pessoas que variava de intervalo para intervalo.. era o rei lá do liceu.. foi o nosso primeiro contacto. nunca tínhamos falado antes. olhou-me com aqueles olhos castanhos em forma de amêndoa..e eu apaixonei-me.. foi o meu primeiro e único amor.. perdi a virgindade com ele, descobri o amor, o sexo, o prazer, a vida.. fomos para faculdades diferentes mas a ligação nunca se perdeu.. casámos um ano depois da licenciatura para felicidade nossa e dos nossos amigos que perguntavam insistentemente desde o 12º quando nos casávamos..fomos tão felizes..e agora cada um vagueia nos seus pensamentos e vive vidas paralelas..
não vem dormir a casa desde aquela conversa que me fez ver a verdade.. o meu vazio..

segunda-feira, 1 de março de 2010

O Amor

Porquê amar?
sim!
Amar por amar
Para quê, para quê?


Se gozam connosco por amar, amar
De corpo e alma para um dia voltar a chorar?


Para quê?
sim, dar amor, dar
e dar e não parar de dar 
e um dia ser triste, desolado, desalentado
por nao sermos correspondidos?
mas, porquê?


Amarei,
Voltarei a amar
Sempre que preciso 
e nos braços 
Desolados da solidão,
Gritarei amor até mais não!

(Antologia de Novos Poetas : As palavras do Amor, editora: Elefante Editores 1999)

[ escrevi este poema para um desafio literário proposto aos jovens da minha cidade quando tinha 12 anos que acabou em publicação, passado tanto tempo ainda me revejo nestas palavras. apeteceu-me partilhá-lo.. :) ]

Modas do vento..

no bailar do compasso dedilhado pelas mãos calejadas de um artista nós dançamos ao som da rebeldia que nos caracteriza... as cores da exuberância e da gargalhada estridente estão tatuadas em nossas faces que afastam as tristezas. :) sou o teu "mini ego" ves em mim a mesma fome de pó de estrada, a mesma impulsividade de ver o mundo e a urgência de sentir que fervilhava nas tuas veias quando tinhas a minha idade, sentes a tolice e a insegurança e arranjas formas de ela ser ultrapassada com um simples gesto de paciência... a amizade não escolhe idades mas sim vontades.


a ti vadio como o vento

domingo, 28 de fevereiro de 2010

ligar ou não ligar?

tento negar a minha própria vontade. não consigo recordar-me do número de vezes que marquei o numero dela e não consegui completar a chamada. sinto saudades dela, de fazer amor com aquele corpo alvo, com aquela alma estranha que se foi entranhando no meu ser. eu estava decidida a assentar, estou farta de relações falhadas, pessoas que me usam e deitam fora. preciso de construir um ninho, uma família, um futuro consistente dentro dos padrões ditos normais. naquele fim de tarde com uma simples frase conseguiu despoletar inúmeros desejos e fantasias esquecidas. mas que tola sou em deixar-me ir nas suas conversas!?! que estúpida sou em ainda sentir algo por ela! será que as minhas relações com o sexo oposto falharam por estar sempre presa na espera que fossem como ela, minha fera Eva.. só consigo recordar os bons momentos a seu lado, das orgias regadas a vinho branco e champanhe, das paragens do tempo que fazia para as duas em que espezinhava os homens que a devoravam com o olhar e me dizia ser só minha! que a sua alma me pertencia mas que poderia emprestar o corpo ao devaneio da carne.. cada uma seguiu o seu caminho, eu preciso de paz... mas...não fará mal nenhum só pecar mais uma vez a seu lado numa ultima pitada de loucura.. vou ligar-lhe..
- olá..sou a Amanda
- Eu sabia que ligarias...

O futuro de Amaterasu



um  dia correrei o mundo de espírito aberto tendo como bagagem essencial um lápis e o caderno de capa preta :)

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Eva e o trapézio...

a discoteca estava cheia de uma massa homogénea de caras desconhecidas... ontem apeteceu-me ir sozinha, as companhias do costume parecem-me demasiado enfadonhas.. está a tocar aquela musica irritante do costume já não a suporto, o ar encontra-se putrefacto com a mistura dos suores dos corpos que se comprimem no mesmo espaço imitando as sardinhas das latas de conserva.. acho piada ao bando de corvos que rodeiam um grupo de miúdas na casa dos 20 anos completamente envolvidas nos efeitos do álcool dançando de forma (pensam elas) sensual. a dança resulta em movimentos desajeitados de quem já não controla os movimentos do corpo cambaleante.. vão acabar na cama de algum dos abutres que as observam. na minha guerra para conseguir chegar ao balcão e pedir a minha vodka preta com redbull deparo-me com um rosto familiar a tentar ser ouvido pelo barman que não tinha amos a medir para tanta clientela. o meu coração pára.. a minha boca solta um tenue som tremido: - Manuel..esfrego os olhos tentando clarear a imagem dele...Manuel.. sussurra a minha mente que vê o seu estado alterar-se; o ritmo cardíaco disparou em flecha, calor na face, aperto no fundo do estômago, amassei a nota na mão tentando passar-lhe esta energia que me abala.. está igual, os caracóis rebeldes do comprimento que eu dizia ser o ideal para puxar (cumplicidade de amantes apaixonados pela loucura)..observo-o sem ser vista, deliciando-me com cada recordação que aquelas feições me ofereceram, devo ter estado parada no tempo fixando-o com um sorriso estampado no rosto que nao consegui nem tentei sequer esconder..não dei conta que ainda mexia tanto comigo, num impulso aproximei-me e toquei-lhe na palma da mão deslizando a ponta do meu dedo em círculos no centro onde se cruzam as linhas do amor e da vida..era no nosso toque dos tempos em que partilhávamos o mundo.ergueu o rosto e encarou-me olhos nos olhos com mil e uma perguntas que precisavam de explicação.. respondi a todas com um beijo.. terno, suave, com as minhas mãos rodeei o seu rosto, transmitindo todo a ternura e saudade que senti no momento..um assalto de carência ou amor, não sei, ou não quero saber, perdi o controlo de mim e deixei toda a minha necessidade de dar, a urgência de amar e perdi-me nele... contornei os seus lábios lentamente, provocando..recuando..brincando..o desafio que sempre o fez desejar-me com a luxuria necessária para me completar... neste momento encontra-se tal como veio ao mundo, deitado de costas a dormir um sono profundo no meu leito; admiro cada curva, sinal, admiro a tatuagem, louco... não encontro uma explicação para o que fiz.. eu não estava bêbada, nem debaixo de nenhuma "pedra".. porquê com o Manuel? terá sido uma brincadeira de mau gosto de algum diabrete que o enfiou de novo na minha vida? será que ainda me ama? caralho!?!?! vou magoa-lo de novo...que fiz eu?? como irá ser o acordar? que lhe direi? não posso fugir e deixar um bilhete como da ultima vez..mas será isso que quero fazer? que faço merda?!? vai acordar, já se começou a esticar lentamente imitando um felino no seu despertar.. como o conheço, ou melhor, conhecia..já passou algum tempo desde que terminei algo que pode ter sido a melhor relação da minha vida.mas eu precisava voar, encontrar em mim o que ainda desconhecia. mudei, mas continuo sem saber quem quero, ou porque quero.. será que já sei mas não quero ver? acordou... e agora?

Understand

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

O alguem de Maria..

aqueles olhos grandes e expressivos abrem-me as portas da sua alma... estão tristes, carentes com um travo de sofrimento contido. foco-me nela dedicando-lhe o meu olhar mais doce, sorri timidamente e cora.. desviou o olhar... agita as mãos nervosamente nos bolsos do casaco.. fica-lhe bem, o azul claro ilumina-lhe a tez rosada.. linda.. pura.. aproximo-me dela e toco-lhe no ombro.. olha-me directamente com olhar inquiridor, as pestanas longas rodeiam um verde claro com pinceladas de dourado... a medo solto num murmúrio incontido aquilo que querias ouvir e eu queria que ouvisses..
-Maria... és tu? foste sempre tu o meu amor?
-Sim Diogo...

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Momento de Eva...

adoro o calor da chávena presa no meio dos meus dedos nestes dias em que a chuva bate incansável contra os vidros da janela... perco o meu olhar nas gotas que escorrem lentamente traçando linhas inconstantes acabando por se fundir com outras linhas.encosto o bordo da chávena aos lábios e vou inalando o vapor tentando descobrir as especiarias que compõem a infusão orbito para o reino dos sentidos por momentos..guardo cuidadosamente o som das gotas enraivecidas contra as janelas, o tic tac do relógio, a melodia intermitente que o violino solta em notas vacilantes nas mãos da vizinha... inalo mais uma vez...calmamente...tento adivinhar;canela, rosa, limão... sorvo pequenos golos sentindo o meu corpo a aquecer e as papilas a deleitarem-se com os sabores que adivinhei. era bom quando partilhava contigo estes momentos, agarrada a ti, aconchegando-me no teu regaço e conversando sobre o futuro..esse nunca chegou a vir.. teimosia minha, insatisfação, anseio do desconhecido.. as minhas recordações estão a ir por onde não quero.. vou ver um filme, abstrair de mim ate que o sono me venha resgatar da realidade..

Um momento de Amaterasu...

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Maria e o olhar de alguém...

porque me olhas assim? dessa maneira que me invade a alma e destrói todas as barreiras que insistentemente teimo em levantar para que não te vejas reflectido em mim...
sim.. para que não vejas o que guardo na minha caixa de pandora fechada a cadeado, cuja chave escondi em nenhures.. não me olhes assim... pára!! não chegam já as mensagens  que os meus olhos te sibilam e que eu não consigo ludibriar? pára!!! desvia esse olhar penetrante, calmo e sorridente que rejubila a cada barreira caída na minha mente.. não quero que me vejas, não quero que me leias... não quero... 
vou desviar o olhar... 
mesmo assim sinto o fogo dos teus olhos cravados na minha face, o calor desse olhar provoca-me um rubor incontrolável, suores frios banham-me as mãos frenéticas que escondo no fundo dos bolsos do casaco, o coração salta-me no peito mais veloz que o compasso dos meus pensamentos. quero pensar numa forma de me libertar deste feitiço, se ao menos parasses de olhar para mim...

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Um pouco de Eva...

quero perder-me nas palavras sussurradas ao ouvido entoadas com malícia, vindas do coração da luxuria.. quero sonhar de olhos abertos vendo o mundo como se nunca o tivesse visto, absorvendo as doces brisas que o vento me oferece em jeito de caricia e saboreando os prazeres que a carne tem para me dar... não quero algemas, restrições, preconceitos e regras inúteis que me vergam perante os outros.. quero continuar a viajar nas ondas da minha vontade, dos meus desejos, da minha loucura.. adoro ser a caçadora de sensações e a presa que julgam inocente.. gosto da adrenalina da conquista, da fúria da primeira vez, da fome dos corpos insatisfeitos, da essência do pecado..quero amar sempre que precisar e esquecer quando a alma exige liberdade...

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

A insonia de Madalena

mais uma noite no meio de tantas outras em que os meus ouvidos vão captando o compasso certeiro dos ponteiros do relógio.. não tenho sono, nem vontade de dormir... ainda ecoam as palavras do Luís batendo nas paredes da casa agora deserta...
"- Madalena... precisamos de falar..." o rosto dele aparentava calma, os seus olhos estavam vazios, a boca fria e segura das suas confissões. tinha-me traído...quer o divórcio... já esperava  por isto, após tanto tempo de isolamento desmedido da minha parte, da falta de atenção, das horas mortas em que eu me refugiava no trabalho para esquecer a dor ou devorava os livros das estantes só para evitar falar... bem sei que já passaram dois anos desde que aquilo aconteceu... ainda hoje me arde a alma e se esconde o coração quando me recordo da felicidade efémera que naquele tempo me preencheu durante largos meses ate ao dia em que dei ao mundo o fruto do nosso amor para o perder sem sequer ter tempo de o sentir no meu regaço..o medico fez o diagnostico : nada a fazer, sem vida...  fiz-me de forte e amparei o choro dele, contive o meu...contive...e....contive...e contive...  aos poucos deixei de ter a necessidade de chorar pois por dentro fui ficando vazia, não permiti que se aproximasse de mim, não deixei que os seus braços me aninhassem, não quis o seu carinho.. refugiei-me no meu mundo para me abstrair dele, dia após dia inventei desculpas para não ir cedo para casa, não o queria ver, doía.. ainda o amo, mas não consigo aproximar-me,já é tarde cavei um fosso abismal entre nós rodeado de arame farpado...não sei se vale a pena cortar as mãos, o corpo, a alma para o recuperar...mas eu já não tenho alma...essa foi-se naquele hospital servindo de acompanhante do meu rebento, do meu pequeno Marco...mascarei a minha dor com uma camada de frieza.. frieza essa que me preencheu por inteiro sem esquecer um pedaço sequer... já é tarde para recuperar a chama, o meu calor, a minha alegria... prefiro ficar assim... VAZIA...

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Apetece-me...

...dançar no silencio a melodia de outrora agarrada ao vento que me ignora...
 

O Luis e a decisão

acordei com o alarme do telemóvel em enorme algazarra tentado despertar-me do meu refugio no mundo dos sonhos. como sempre fui adiando o acordar... mais cinco minutinhos e mais cinco...e ainda mais cinco... o aconchego das mantas transmite-me um prazer peculiar - o meu tempo... o tempo em que organizo o que irei fazer ao longo do dia e como gerir os compassos do relógio.. hoje não foi esse o caso, aproveitei para me aquecer com recordações e tentar descobrir o que farei para resolver o meu presente. a minha mulher já se tinha levantado parece que estar ao meu lado a incomoda... as coisas já não andam bem, olho para ela todas as noites e pergunto-me o que faço ao seu lado.. mal falamos, mal nos olhamos muito menos nos tocamos. parecemos dois desconhecidos que habitam o mesmo espaço e não fazem intenções de interagir.ainda me lembro do dia em que a conheci, tão cheia de vida, de calor, de ingenuidade e pureza.. apaixonei-me pelo seu sorriso maroto e alma de criança... como pode estar assim tão diferente? os seus olhos já não brilham, a sua voz perdeu a melodia e chega-me aos sentidos com uma frieza mal dissimulada.. não aguento mais isto... três anos de casamento e não consigo reconhecer o ser que todas as noites se deita no meu leito e me oferece distancia..estou farto.. não vale a pena lutar por algo que já está morto.. morreu o amor e eu não sei de quem foi a culpa... vou avançar e pedir o divorcio...é melhor não...perderia todo o património pelo qual lutei anos e anos... mas que importa a merda do material se eu me sinto vazio??? a recordação do encontro com Eva naquele jardim ao anoitecer só me deu mais força.. esboço sempre um sorriso quando digo este nome. se cheguei ao limite de procurar alguém externo a esta aliança é porque o limite chegou..  levantei-me e encontrei-a sentada na janela da sala apreciando o movimento da rua... ainda mantém a pose de menina mas os seus olhos estão cinzentos.. escolhi bem as palavras na minha mente e ponderei que tom de voz a usar.. limpei a garganta para ela se aperceber que eu estava ali.. a voz saiu calma e serena..
- Madalena.... precisamos de falar...

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

O Manel e a dor...

não quero pensar naquilo que não sai do meu pensamento..não quero ver aquilo que tenho diante dos meus olhos, quero fecha-los e imaginar que não estou aqui.. estou noutro lado, perdido algures no meio das cores esbatidas do que fui, do que tive, do que atiraste fora, tive o mundo na palma das minhas mãos quis guardar mas não deixaste...doí-me, tanto como nunca te doeu a ti...abraço-me a este conforto banhado de pena e saudade..
quanto tempo dura o conforto ilusório da minha dor? dura o tempo que eu deixar que dure dizem as vozes que inconscientemente despertei neste meu deambular nocturno..nada sabem da profundidade com que rasgaste a minha pele com essa lamina afiada apelidada de indiferença, o conforto da minha dor dura o tempo que tiver de durar... o tempo suficiente para que te tornes indiferente ao meu olhar! o tempo que eu demore a regressar a mim...não me mataste Eva...por enquanto...

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Recordações de e com Eva....

estou a tremer, apetece-me fazer o que sussurraste ao meu ouvido.. por mim, por tudo..mas não quero, não posso, não sei...
aperto ansiosamente a rosa que me deixaste..pétalas aveludadas que me lembram a tua pele... conto mentalmente os segundos em que sustenho o ar nos meus pulmões...1..2...3..4..5..6..7..8..9..10... expiro lentamente despejando o peito até sentir a ultima lufada... sensação de paz momentânea.. a tua visita fez-me recordar velhas historias... Eva... procuraste-me depois de tantos anos... com esse sorriso de criança travessa, os teus olhos continuam como antes cheios de malícia... disseste que o tempo em fomos um só foi fantástico para ti.. eras selvagem, o teu corpo alvo governado por essa língua afiada eram o meu devaneio.. com o tempo foste-te afastando de mim.. encontraste novas paisagens para contemplar e novas sensações para descobrir... como sempre partilhaste as tuas aventuras luxuriantes comigo mas não te apercebeste que mudei... já não sou a mesma pessoa de outrora... mas continuo a precisar de estabilidade..de atenção Eva!!! estou a falar para as paredes como se tu me pudesses ouvir.. gostava de te poder gritar aos ouvidos tudo aquilo que penso...não consigo!!! as paredes continuam mudas e eu continuo a falar para a tua presença apenas visível na minha mente... oh Eva... é difícil.. apareces num dia em que tudo parece correr mal... é no trabalho, em casa, amorosos que não me larga aquela besta... imagina o meu espanto quando entro para beber o meu chá de final de tarde, no local de sempre que ainda não fui capaz de mudar porque este sitio me lembrava de ti, e lá estas tu...sentada na minha mesa, linda como sempre... cresceste, estas mais segura ti , como se isso fosse possível, os teus lábios que noutros tempos me devoravam pintados de cor de vinho.. lábios de vinho como eu dizia...não te esqueceste desse detalhe subtil... a mesa que partilhei contigo durante os anos de faculdade nos nossos finais de tarde em que namorávamos descaradamente sem nos esconder de ninguém está cheia hoje... só a tua presença iluminou o local... e tu apareces assim do nada... não te via desde que nos licenciámos.. estás igual, sorridente, alegre, impulsiva e provocadora... fomos unha e carne durante dois anos... uma só alma... tu lá ias ter com outros para variares como dizias... eu não era capaz, mas respeitava isso em ti.. eles podiam dar o que eu e tu bem sabíamos que entre nós não podia haver... tolas.. nunca mais tive nenhuma miúda depois de ti; aliás, foste a única.. voltei para os homens tal como antes de te conhecer e tenho procurado o sonho dito normal.. casar e ter filhos... já estou pronta para isso Eva... não me venhas retirar o meu sossego... eu quero ser esta Amanda... aquela que já não se mete nas tuas loucuras... vou ter de resistir tentar negar o teu ultimo capricho...  

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

A Amaterasu...

o velho radio canta a mesma melodia vezes sem conta ... não me apetece muda-la... time is on your side.... repete aquela voz entrando em mim lentamente e martelando as mesmas ideias difusas... vou ordenar as ideias... por onde começo? por mim? identificando-me perante aquilo que penso ser? vou tentar...
-sou a Maria.... a romântica incurável... a que ama em demasia e sofre em exagero, a que se entrega e dá tudo de si... 
não, espera... não sou a Maria...
-sou o Manuel... aquele que se perde na melodia de um outro dia que já não existe e se entrega no embalo da saudade, o que sofre na pele os flagelos do amor e por ele morre definhando dia a dia agarrado à recordação da felicidade que escorreu das suas mãos...
espera...
-sou a Amanda... a que se esconde dos outros e do passado no seu pequeno mundo, aquela que se perde na inquietude da liberdade roubada por quem não se quer... serei eu ela? 
-não, talvez eu seja o Luís... o que mantém a vida dupla... o saltimbanco das mascaras opostas... o marido fiel e honrado que esconde o amante do pecado... 
hmmm será que sim? não sei... 
-sou a Eva? a selvagem... a que corre livremente pelos prados amando e esquecendo... esquecendo e amando a luxuria, o calor, o momento.... 
a musica está a recomeçar de novo, já nem sei quantas vezes hoje o piano me ofereceu as notas dedilhadas suavemente pelo dono desta voz... para quê perder tempo em tentar saber quem sou? posso ser tantas coisas e viver tantos momentos diferentes absorvendo-os com a intensidade necessária para me sentir viva...
gosto da pureza da Maria, do sofrimento do Manuel, do mundo da Amanda, dos segredos do Luís, e do pecado da Eva... e gostarei de pequenos pormenores de tantas outras identidades ainda por descobrir e criar com os traços leves dum lápis roído,  no eterno caderno preto onde residem os pequenos rasgos de nada ... os rasgos de Amaterasu... as personagens de ninguém que poderias ser tu...

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Sei lá...

que ando a fazer?
não sei...
aperto a cabeça entre as mãos tentando abstrair-me destes meus pensamentos divagos e confusos como sempre...
passou, doeu e agora esquece!
diz-me a voz interior que sempre me acompanha.. mas eu questiono-me... 
será que passou?
será que doeu?
esquecer o que? aquilo que não foi?
porque me perco assim dentro de mim mesma? 
não estou feliz, não estou infeliz... 
encontro-me num estado de contentamento descontente... 
sei lá...
tudo me parece tão fútil.. tão irrelevante e ao mesmo tempo tão profundo e importante para minha sanidade mental e emocional... 
sei lá...

sábado, 23 de janeiro de 2010

Alguém assim?

não tens de ser como eu...
não quero que sejas racional ao extremo, tens de saber sentir.. dar valor aos sentimentos, ás pequenas coisas que fazem sorrir, aos momentos...
que saibas recordar, e ser recordado...que saibas planear e construir, mas também deixar fluir...

não desejo que te cales mas sim que fales, sussurres quando a cumplicidade surgir, que grites quando o grito vai subindo pela garganta e pensas que o devias conter...
quero que cantes debaixo da chuva saboreando as gotas lavando a tua alma...
que converses sobre coisas serias, banais, incoerentes, complexas... que saibas dar uso ás palavras para descrever o que vais sentindo para poder entender...
que saibas ouvir e criticar...
que sejas o ponto de equilíbrio entre a razão e o coração...

preciso que gostes de aprender e crescer agarrando sempre os sonhos na palma das tuas mãos e que os convertas em vida... preciso que evoluas a cada dia que passa para que te tornes ainda mais interessante..

necessito que chores, rias, sorrias... que me limpes as lágrimas, me faças rir e sorrir abertamente...
quero que sejas o colo onde me escondo, o abraço que me embala, o ombro onde choro e que me permitas ser o mesmo para ti... preciso que dispas todas as minhas personagens e escrevas nas paginas que se encontram ainda em branco neste guião...que vejas na simplicidade a essência das coisas...
não quero que sejas nem bonito, nem feio... pois a beleza encontra-se nos olhos de quem a vê... 

tens de ser duro comigo apontando os meus defeitos para eu melhorar um pouco sempre que o fazes... não precisas de ser um herói, não quero que sejas vulgar... 
não te procuro perfeito nem tão pouco imperfeito...
simplesmente procuro-te a ti...

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

A Eva..


Aquele encontro no jardim deixou-me repleta de adrenalina...
o sentimento de poder inundou-me a mente, senti-lo submisso aos meus caprichos... ele é brilhante na arte de me deixar mandar... senti-lo a vacilar e a perder a pouco e pouco o controlo de si mesmo elevou-me a níveis de satisfação que desconhecia... ver o seu olhar quase a implorar o meu calor e eu negando... a fúria do desejo não satisfeito com o simples roçar dos corpos traduzia-se no rosto dele fazendo a luxuria invadir ainda mais os meus sentidos...cavalguei nas ondas intempestivas até os arrepios do êxtase percorrerem todos os centímetros do meu corpo... existiu por momentos mais nada ao nosso redor, somente o desejo e fome de prazer...
hmmmm...
ainda sinto o cheiro dos nossos suores misturados na minha pele e o sabor do seu beijo na minha boca... apetece-me mais... vou ligar-lhe...
esta a demorar a atender...
rejeitou a chamada...
deve estar a trabalhar...suponho eu...
recebi uma mensagem dele..porque estou com este sorriso estupido se ainda nem a li?
-"não posso atender, estou com a chata da minha mulher"
HEIN??? ele está com quem? casado? sinto um tremor de raiva a nascer do fundo do meu peito.. PORQUE É QUE ELE NÃO DISSE ANTES? nunca me teria envolvido assim... e agora assim do nada ele dá-me com isto de repente...será que também tem filhos? sou a amante? a mulher dele saberá que eu existo? FODA-SE LUIS eu tinha-te pedido para seres sincero!!!
tenho de beber um whisky...

Frase do dia...


andava perdida no meio de papeis e lápis espalhados ao meu redor e esta frase saltou-me ao olhar... gostei dela.. não sei porque.. vou ficar a pensar nela...

"Desejo-te tanto que quero que doa em ti, deseja-me tanto que doa em mim.."
"




terça-feira, 19 de janeiro de 2010

O casal..


hoje as palavras borbulham inconscientes na minha cabeça.. vou agarrando-as como posso mas as teclas não me permitem escrever á velocidade dos meus pensamentos.. frases soltas de personagens criadas e por criar bailam na minha mente cruzando as suas vidas numa teia incompleta de passos ainda não imaginados... 

A tarde estava pintada em tons de cinza, um vento suave e frio fazia ondular as folhas produzindo aquele som relaxante dos dias de inverno. Num espaço sem nome duma terra qualquer um esboço de um corpo esguio aproxima-se no horizonte. passos curtos e inseguros marcam a sua caminhada lenta... está só...sente-se só.. mantém o olhar preso na calçada parece tentar memorizar cada milímetro das pedrinhas que a formam... em que pensará? estanca debaixo de um velho carvalho elevando o seu olhar para os galhos despidos pelo vento... alguém se aproxima sorrateiramente e a abraça pelas costas beijando-lhe o pescoço com ternura... sorriem com cumplicidade só própria dos amantes... um braço longo e apertado sela o re-encontro.... quem serão? o que se esconderá o silencio? porquê se encontram aqui? quais as suas historias e pensamentos? serás tu uma destas personagens? ou serei eu? ou ele? ou serão eles?

O Luis Bolicarpo...

...os seus seios enrijecidos pelo ar da noite apontam para mim como se tentassem rasgar a fina camisa de seda que envergava... a sua voz soava rouca de desejo murmurando ao meu ouvido promessas de momentos de luxuria...esta a fazer-me perder o controlo de mim mesmo.. os teus labios percorrem-me o pescoço lentamente... desafiadores...tento captura-los mas escapas com a subtileza de um felino...sabes que este jogo me agrada...e muito...

cravas ao de leve os dentes...perco a noção do espaço...estamos ainda no jardim...

TU ÉS LOUCA!!! tento articular num grito, que é logo abafado num beijo selvagem que me rouba o alento...comprimes o teu corpo contra o meu como se me quisesses absorver, o calor que emanas vai-se entranhando na minha pele libertando enormes descargas de pura fome...
hoje queres mandar tu...

vou deixar-te mandar...


sábado, 16 de janeiro de 2010

Em jeitos de desabafo...

estou cansada...estes dias foram atribulados, muito café, impaciência, poucas horas de sono, alguns ataques de fúria incontida por razões de nada... finalmente esta etapa está superada, ainda faltam mais duas.. preciso de tempo.. tempo para escapar e recuperar energias e alguma sanidade.. nunca mais chega o mês de Março.. farei a tão prometida viagem..relaxarei ao som de caras que me trazem doces recordações  e sentirei aqueles abraços apertados e cheios de saudade que atravessam a alma bem devagarinho... irei com aquela companhia arisca  saborear a ginjinha do rossio, daquele tasco que estagnou  no tempo sempre repleto de todo o tipo de pessoas...

passearei pelas ruas perdida e sem pressa entrando numa realidade que não a minha... assimilarei cada aroma, som e imagem... até já me estou a sentir nas ruas de Almada visitando camaradas de antigas lutas sentada nos sofás da casa do pessoal com as nossas discussões utópicas de quem sonha o impossível.. as barbaridades sem sentido útil algum que provocam gargalhadas estrondosas, regadas com cerveja russa e como sempre caso falhe esta, recorreríamos á nacional.. estou assim saudosa e ansiosa... preciso de (re)descobrir aquilo que me vem a passar ao lado, ás mudanças na vida destas pessoas... a sua evolução...para conseguir acabar de tecer a minha teia aliando isso ao descobrimento de novas personagens e sensações que formam esta peça de teatro.. reforçar as minhas múltiplas personalidades e gostar de ser quem sou...
EU!
  imagem: http://www.pbase.com/diasdosreis/image/92906554

 ps- vou sonhar ao som de Disposition - Tool

sábado, 9 de janeiro de 2010

A Maria e o que não é e não será...

não quero pertencer-te...
não quero ter-te...
pois sei que nunca te terei...
e que tudo não passa daquilo que um dia imaginei....
não te terei...
não me pertencerás...
serás a recordação de algo de poderia ser e nao foi...
serás a imagem do sorriso...
mas não da lágrima...
pois essa eu não a verterei...




quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

O tempo...


o tempo passa por nós sorrateiramente... tentamos contabiliza-lo olhando sistematicamente para os ponteiros do relógio.. agendamos os nossos afazeres mal acordamos... racionalizando todos os compassos... tudo gira em volta do tempo... o tempo que demoramos a levantar, a vestir,a tomar o pequeno almoço antes de ir para as aulas/trabalho... quantas horas temos para realizar tal tarefa... se teremos tempo de no mínimo estar 5 minutos com aquela pessoa e sentir que se passaram segundos... 
o tempo...
existem momentos que nos fazem desejar que o mundo páre e deixe de girar de tão perfeitos que são... momentos em que os problemas se dissipam e és só tu e agarras o mundo nas tuas mãos..abres o coração e entregas todas as tuas energias baixando as máscaras que te escondem e reflectem o que tu comandas... és só tu!!! genuíno..sem regras nem questões que possam apagar o brilho do teu sorriso...respiras de peito aberto e sentes nos poros o ambiente e a energia do momento... quando estes fenómenos acontecem... o tempo parece correr... não o consegues agarrar... corre das tuas mãos e por muito bem que cerres os punhos ele vai-se... 
o tempo...
toca-te no corpo e na alma.. muda-te a cada segundo que o relógio avança o ponteiro... tic...tac...tic...tac... 
tudo o que vês, ouves ou pensas modifica-te... pequenos passinhos são dados na eterna evolução que o tempo te oferece... e tu nem sentes... 
o tempo..
.terminará o teu ciclo e ele ainda cá estará... 
queres mudar o tempo? não consegues...
queres mudar-te a ti mesmo? isso já esta a acontecer... 
queres ser alguém? tu já és alguém...
quem te tornou naquilo que és? o tempo...

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

O rasgo do sol :)

não me apetece escrever..
mas deixo um rasgo do que me vai na alma...

existe sempre uma luz no fundo do túnel...

domingo, 3 de janeiro de 2010

A Amanda...


as gotas do chuveiro escorregam pelo meu corpo, a agua a escaldar deixa atrás de si linhas de calor que penetram a minha pele deixando-me inebriada de inercia... tenho o cérebro adormecido e cansado... a fúria de nada querer e nada ter já nem parece atingir o cume dos meus pensamentos... mais uma vez as coisas não correm bem... ele continua... se me odeia tanto porque não me ignora? porque insiste nesta onda de ataques ao meu mundo? não sei... os meus pensamentos turvos não se podem focar neste ponto... mas sinto-me saturada.. procuro a paz e o equilíbrio sem perder o toque do devaneio saudável... o cheiro do gel de banho relembra-me que ainda aqui estou escondida do mundo tentando lavar os episódios desta novela que nunca deveriam ter sido escritos... porque sou tão carente? a necessidade de protecção e amparo deixa-me assim entregue ás mãos de quem não sabe fazer mais nada que atacar e atacar... 
  serei o ser diabólico da confusão? que sem conseguir encontrar o seu rumo vai dando pontapés com os pés descalços em pedras pontiagudas? que fazer? esboçar um sorriso aberto montado na aparência segura e hirta de quem nada teme e tudo esquece? ignorar a sensação de medo e insegurança? ou simplesmente render e deixar cair a armadura? tento falar com ele? não... não me vai ouvir...resisto? faço frente de cabeça erguida e orgulho na boca?
continuo aqui sentada com a agua a regar esta corpo curvado sobre si tentando reter a minha sanidade.. estas malditas questões matutam uma e outra vez na ténue teia de pensamentos que se mantém de pé... a pele das mãos já esta enrugada como a de uma avó.. o vapor aconchegou-se num nevoeiro subtil em meu redor... estou protegida aqui nas brumas que cercam o meu castelo... tenho que tomar uma decisão... hoje não... vou aninhar nos lençóis e esconder a cabeça na almofada... desligar a ficha que me liga ao mundo dos outros... amanha tudo parecerá mais racional com o brilho do sol....